Dica de filme: Videodrome - A Síndrome Do Vídeo

Videodrome (1983) 87:20 - 18 Anos - Estados Unidos da América
Sinopse: Dono de uma pequena emissora de televisão a cabo tem suas transmissões afetadas por imagens fortes e chocantes de uma estranha experiência. A princípio sem saber a origem das cenas, ele descobre aos poucos que se trata de um programa de hipnose que também acaba manipulando-o. O filme do começo da carreira do diretor David Cronemberg, tornou-se um cult.


O filme faz conexões com as ideias do teórico da comunicação Marshall McLuhan. McLuhan introduz as expressões o impacto sensorial, o meio é a mensagem e aldeia global como metáforas para a sociedade contemporânea, ao ponto de se tornarem parte da nossa linguagem do dia a dia. McLuhan foi precursor dos estudos midiológicos. Seu foco de interesse não são os efeitos ideológicos dos meios de comunicação sobre as pessoas, mas a interferência deles nas sensações humanas, daí o conceito de "meios de comunicaçao como extensões do homem" (o título de uma de suas obras), ou "prótese técnica". Em outras palavras, a forma de um meio social está diretamente relacionada as novas maneiras de percepção instauradas pelas tecnologias da informação. Os próprios meios são a causa e o motivo das estruturas sociais.

Assista aos comentários do crítico Marcelo Janot sobre o clássico de David Cronemberg:

Assista também ao trailer do filme:




Crítica por Rodrigo Duarte no Canto do Cinéfilo:

O crítico R. Barton Palmer levanta uma hipótese interessante quando coloca que "a história de David Cronenberg sobre as horríveis transformações geradas pela exposição à violência televisionada, aborda habilmente os problemas que o próprio diretor havia tido com censores, distribuidores de Hollywood e grupos feministas por conta da exploração de imagens de violência sexual em suas produções anteriores." Essa livre interpretação do filme enriquece a sua análise, uma vez que aproxima o seu idealizador do seu objeto de estudo.

Na verdade, Videodrome é o primeiro filme em que as obsessões e o estilo que fizeram a fama de Cronenberg se manifestam em toda a sua plenitude. Não fosse a mente perturbada do diretor canadense (peço licença pra me servir do cliché comumente associado à figura do cineasta) o filme não passaria de um noirordinário: um produtor de TV inescrupuloso (James Woods) se dá conta, por meio de uma inspiradíssimafemme fatale (Deborah Harry), de que não passa de um intermediário em um complexo esquema severo de manipulação de mentes e desejos - o matrix de Cronenberg quase vinte anos antes do Matrix (1999) dos irmãos Wachowski, bem menos estilizado e muito mais interessante.

A ideia (recorrente em cinema) do protagonista que se apaixona por uma imagem (não necessariamente pelo objeto) é levada ao extremo em Videodrome. O filme aborda, dentre outras coisas, a vertente nefasta da relação homem x imagem (no caso a TV, mais precisamente o vídeo - lembremos que o filme é do início dos anos 80). É impossível prever nos primeiros minutos de projeção que o filme nos conduzirá às mais recônditas e bizarras manifestações do subconsciente - dos deles (o diretor e seu protagonista) e do nosso. Os eventos se sucedem naturalmente, em um ritmo vagaroso, contrastando com a extravagância das questões que emergem na tela. A opção acertadíssima de evitar um cenário futurista, ou retrô carregado, ou qualquer alternativa que nos afaste da "nossa realidade", contribui para o efeito de estranhamento que a trama nos proporciona. Eu gosto particularmente da maneira como o filme nos envolve sem chamar a atenção para a sua excentricidade.

A filmografia de Cronenberg é repleta de referências ao sexo (o ato sexual e a sexualidade) e a violência, bem como aos efeitos dessa combinação. Dada a natureza instintiva de ambos, não espanta que seus personagens se comportem, por vezes, como animais selvagens. A Mosca (1986) é a metáfora perfeita dessa condição. No entanto, a imagem que melhor ilustra essa combinação em toda a filmografia de Cronenberg se encontra em Videodrome: a pistola na mão de James Woods (representando seu pênis) com o cano a acariciar o “inexplicável” orifício (remetendo a uma vagina) formado em sua barriga.

É um cinema de vícios e que vicia. Sem contra indicações.


2 comentários:

  1. Obrigado pela visita ao Canto do Cinéfilo, Mateus. Seja sempre bem vindo! Abraço.

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  2. Eu é que agradeço pelas resenhas dos filmes! Abraço

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