O mico da falta de comunicação


GUSTAVO GOMES DE MATOS *



Dois macacos diante do computador conectado à Internet: 
- "Não se preocupe, ninguém vai perceber que somos macacos".

Vivemos a plenitude da sociedade informacional, bem distantes do que poderíamos chamar de era da comunicação.  Sofremos o impacto de um cruel paradoxo: excesso de informação e aumento da incomunicabilidade e da solidão. Muito barulho nas redes sociais e pouco relacionamento humano nas vidas pessoais e profissionais. Somos animados pelo marketing do espetáculo à satisfação dos desejos individuais e desestimulados a participar da evolução dos fatos pelo exercício da inteligência coletiva.

O mundo tecnológico amplia-se de modo espetacular e contínuo. Esbarramos no novo, somos atropelados pela informação, consumimos e somos consumidos por um mercado autofágico, o tempo todo. Globalizam-se os meios de comunicação, somos pontos de emissão e recepção instantâneos.

Tudo seria uma maravilha se não houvesse a barreira da relação humana, com o distanciamento cultural, o vazio de experiência em conviver, a falta de hábito de pensar, refletir e agir em equipe. A tecnologia põe as pessoas em contato, sem promover o relacionamento efetivo e afetivo. 

Muitas empresas ‘modernas’ têm centrais de informação que emitem atos administrativos; têm redes sociais, intranet, vídeo-jornal, revistas e mural eletrônico, reuniões regulares, teleconferências, eventos técnicos e culturais, cursos de desenvolvimento, seminários, palestras, workshops de capacitação e por aí vai. São empresas com comunicação nota dez? Não, na média, não vão além de mera nota 5!

São empresas excelentes em termos de tecnologia da informação, mas em matéria de comunicação e relacionamento humano estão completamente por fora. Em prejuízo do relacionamento, há a cultura subjacente do autoritarismo, conflitos de poder, competição predatória, ciúmes, ressentimentos e sabotagens, bloqueando a percepção, criando desavenças, estimulando antagonismos. A informação relevante é escamoteada.

Muitos executivos de organizações superinformatizadas afirmam que obtêm informações estratégicas da empresa para a qual trabalham ‘com os clientes externos ou através da mídia’. Outra dificuldade é que na enxurrada informacional não é fácil identificar o que não é ‘lixo’.

O conteúdo humano – pessoas se relacionando – é o fundamento de todo processo de comunicação. Sem ele existe muito monólogo, pouquíssimo diálogo e nenhuma interação.

Todos somos comunicadores, mas aqueles que fazem da comunicação compromisso profissional precisam estar conscientes e preparados para uma atividade cujo alcance e cujas responsabilidades influem decisivamente na maneira de ser de pessoas e organizações. 










* GUSTAVO GOMES DE MATOS

Jornalista, pós-graduado em administração de recursos humanos e especialização em economia. Consultor de Comunicação Empresarial, com 18 anos de atuação em grandes organizações do setor privado. Professor universitário e conferencista de Comunicação Corporativa, é autor dos livros 'A Cultura do diálogo', pela Editora Campus/Elsevier, e 'Comunicação sem complicação: como simplificar a prática da comunicação nas empresas', 2ª edição, pela Editora Manole. É autor, também, de obras institucionais, tais como: Visão de um empreendedor - na realização empresarial, uma razão de vida (Engemaq Indústria de Máquinas -RS); PUC-Rio 60 ANOS - uma história de solidez; e Décadas vitoriosas - a história dos 60 anos do Senai.


FONTE: NÓS DA COMUNICAÇÃO

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