'Mercados ocultos' das Relações Públicas no contexto contemporâneo

Marcello Chamusca*

Imagem conceitual de homem olhando para o horizonte
Falar de relações públicas no contexto contemporâneo implica inicialmente em observar a evolução histórica da profissão, que está vinculada a questões simbolicamente negativas, e que acaba refletindo, até hoje, na percepção de uma parte da sociedade sobre a atividade.
Provavelmente, a falta de reconhecimento ou até mesmo a visão equivocada que alguns empresários têm da atividade, que liga o profissional de relações públicas ao apagador de incêndio ou ao maquiador da organização perante a opinião pública, se dá graças às atitudes e comportamento dos próprios profissionais da área, que colaboraram com a difusão de uma atividade que não inspira credibilidade e que não tem valor no mercado para quem não tem o que esconder ou disfarçar.
Sabemos que o mercado de trabalho para todas as áreas é seletivo. É preciso ser competente para conseguir sobreviver. Talvez seja por isso que profissionais incompetentes se escondem atrás de argumentos que denigrem a atividade para amenizar a sua desqualificação profissional.
O mercado de relações públicas na atualidade é cada vez mais crescente e aberto, dado a sua abrangência de atuação. O profissional pode atuar com planejamento, gestão de eventos, de crise, auditoria, ouvidoria, assessoria de imprensa, comunicação comunitária, dentre muitas outras possibilidades.
Isso tem sido o nosso bem e o nosso mal, pois, se por um lado o mercado é amplo, por outro torna a percepção da sociedade muito dispersa e termina que a maioria das pessoas tem uma noção do que seja a profissão, mas não a sua dimensão completa.
Isso também cria alguns campos minados para a profissão, em que profissionais de outras áreas disputam espaço no mercado de trabalho, disputando competências. Exemplos disso são as Assessorias de Imprensa e a disputa irracional com os colegas jornalistas; a Comunicação Interna, com os profissionais de RH; atendimento, relações com clientes e outros públicos externos estratégicos, com os capacitados em marketing; eventos com os turismólogos e cerimonialistas, dentre outras muitas disputas e brigas por espaços, que entendo ser totalmente descabidas.

Um ponto positivo no momento contemporâneo é o crescimento de vagas em concursos para a área e com salários compatíveis. Além disso, surgem muitos nichos de mercado a serem descobertos.
O professor Roberto Porto Simões fala de 'mercados ocultos'. São espaços que estão abertos, mas que não possuem o nome específico de relações públicas. Estão sendo ofertados com outros nomes como assessoria de imprensa, atendimento, captação de recursos, eventos, gestão de crise, lobby, ouvidoria, pesquisa, gestão de imagem, relações institucionais, comunicação empresarial, comunicação organizacional, marketing cultural, social, político, dentre outras possibilidades.
É necessário que o profissional da área enxergue esses 'mercados ocultos', que possuem funções compatíveis com a sua área de formação e se apropriem desses espaços que estão abertos para profissionais competentes. Percebe-se que hoje em dia, empregos com carteira assinada e todos os benefícios garantidos estão cada vez mais escassos. Contudo, para o profissional competente, não falta trabalho.
Hoje, os melhores espaços e oportunidades surgem para o profissional empreendedor, que tem iniciativa e, muitas vezes, entende que montar a sua própria empresa pode ser a melhor maneira de aproveitar as oportunidades disponíveis. Contudo, muitos preferem emprego fixo, com carteira assinada, mesmo que para isso assumam funções totalmente incompatíveis com a atividade de relações públicas.
O profissional que deseja atuar como relações-públicas precisa além de ter tido uma boa formação acadêmica ter como objetivo a permanente ampliação da qualificação do currículo. Há uma necessidade premente de qualificação e experiência profissional.
Na contemporaneidade, diversas áreas estão sendo abertas e apontadas para o exercício das relações públicas, a área de meio ambiente, com os programas de comunicação social impostos as organizações com condicionantes exigidas pelos órgãos ambientais; a área de saúde na atuação em hospitais, clínicas; no terceiro setor, nas ONGs que defendem as mais nobres causas sociais; no contexto digital, atuando nas mídias sociais; e ainda no âmbito acadêmico, no ensino, atuando como professor, ou, especificamente, na dedicação de pesquisas dos temas relacionados com a atividade.
Concluímos que, quando há uma percepção e comprovação de que o mercado de trabalho está aberto para o exercício da atividade e que as relações públicas tem um valor inestimável para a construção e manutenção dos relacionamentos da organização com os seus públicos estratégicos, se nota que o problema não está e nunca esteve definitivamente com as relações públicas, mas com os indivíduos que exercem a profissão.
Essa é uma questão essencial e necessita ser mudada. A propagação equivocada de um mercado retraído e não reconhecido pela sociedade, a falta de autoestima e pró-atividade dos estudantes e profissionais, além da fragilidade do Sistema Conferp - Conselho Federal de Relações Públicas, que não atua de forma efetiva para o fortalecimento das relações públicas são questões que podem determinar o futuro da profissão.
Cabe a nós, profissionais de relações públicas, enxergarmos o valor da atividade e percebermos a importância da nossa profissão, não somente para o futuro, mas também no contexto atual.
Esse texto foi anteriormente publicado no blog Comunidade RP Brasil.

* Marcello Chamusca é diretor geral do Portal RP-Bahia e atua como CEO da VNI Comunicação Estratégica e Digital e como consultor de Comunicação Social e Relações Públicas. É autor do livro 'Relações Públicas do Brasil' (2007); autor de mais de 50 artigos publicados em livros, periódicos científicos e sites especializados na área de comunicação e educação, além de diversos artigos apresentados/publicados em anais de eventos internacionais no Brasil e no exterior. É colunista do Nós da Comunicação.

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